O anseio do espírito é um e o do ser humano é outro. Os
ensinamentos dos mestres não têm a menor intenção de atender aos anseios
humanos. Os ensinamentos são um caminho
para ser seguido, mas o que se alcança com a prática deles não está preso
aos anseios humanos. Todas as religiões são formadas por interpretações dos
ensinamentos de mestres que estão presas ao anseio humano. Quem vive a sua
religiosidade, a crença nas interpretações dos ensinamentos geradas pelas
religiões, não vive a sua espiritualidade porque ainda está preso ao egoísmo.
Quem vive a sua espiritualidade vive ligado a Deus e com isso aceita que
a 'Ação Universal' aja. Aquele que procura aproveitar a oportunidade da encarnação se liga a
Deus e vive a sua existência sem estar apegado às posses, paixões e desejos
gerados pela mente.
O ser universal ligado a uma mente humana vive a sua existência
a partir dos pensamentos criados por ela. Estes pensamentos são formados a
partir das características da mente. A principal dela é o egoísmo, o querer
sempre para si mesmo.
Para alcançar a vitória que lhe faça vivenciar o ganhar, o
pensamento cria, então, posses, paixões e desejos. As posses podem ser de três
tipos: posse moral (eu estou certo), posse sentimental (eu gosto) e posse
material (é meu). Destas posses surgem as paixões: a paixão pelo que se acha
certo, pelo que se gosta e pelo que se imagina ser seu. Surgem ainda os
desejos: o desejo de ser considerado certo, de ser amado por quem se ama e de
se possuir aquilo que considera seu.
Só que o simples fato de se desejar alguma coisa não garante que
o acontecimento da vida acontecerá seguindo este padrão. Por causa da
constatação desta verdade, o ser humano vive com medo: medo de não ser
considerado certo, medo de não ser amado por quem ama e medo de não possuir o
que acredita ser seu. Mas, porque este medo? Por causa do sofrimento… Sempre
que o acontecimento da vida não ocorre atendendo os desejos do ser humano, a
mente cria uma situação de desgosto e gera a sensação do sofrimento. Esta
sensação é amarga porque ela mostra claramente uma derrota, um não ganhar, o
que não satisfaz a qualidade primária da mente que é o egoísmo.
Por causa deste medo é que o ser universal encarnado não aceita
o sofrimento como algo natural, como parte da existência. As vicissitudes
(alternância de situações da vida) necessárias à elevação espiritual dão à vida
humana a certeza que haverá momentos onde o ser humano ganha e outros onde ele
perde. Portanto, perder é ingrediente necessário da encarnação, mas a mente
humana, mesmo a dos espíritas e espiritualistas, não aceita isso por causa da
sua característica primária (egoísmo) que a leva a querer ganhar sempre.
Sendo assim, a mente que comanda o ser enquanto encarnado, mesmo
a dos espíritas e espiritualistas, possui o medo do sofrimento que possa
alcançar durante a encarnação.
E é possível não sofrer?
Deixar de viver sofrimentos criados pela mente humana é
impossível. O fim do sofrimento está justamente em sofrer com menos intensidade
e logo libertar-se dele. A mente criará a idéia de que a vivência de
determinado acontecimento precisa acontecer com sofrimento e lhe dá automaticamente
este estado de espírito. Mas você, ciente de que tudo está escrito, conhecedor de
que você se voluntariou para passar por aquilo, que o momento não é um ataque,
mas sim uma oportunidade de evolução e não existem culpados da situação, pode então, minimizar este sofrimento que a mente cria.
Alguns dizem, por exemplo, que Buda veio ensinar como acabar com
o sofrimento. Na verdade ele veio ensinar como sofrer. Qual a forma de sofrer
que Buda ensina? Quando o sofrimento acontecer, ou seja, quando a mente o
criar, receba-o com carinho. Abrace-o, afague-o, converse com ele e depois o
libere. Não se agarre ao sofrimento que a mente cria.
(extratos da biblioteca eeu . http://www.meeu.com.br/index.php/biblioteca-eeu.html
)
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