O NOVO PADRÃO DE VIVER A VIDA

Ousar viver na materialidade com os valores da espiritualidade

sábado, 10 de dezembro de 2011

OS MITOS

      “Aquilo que os seres humanos têm em comum se revela nos mitos. Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos.”
      “Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntima, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. É disso que se trata, afinal, e é o que estas pistas nos ajudam a procurar, dentro de nós mesmos.”
      “Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana.”
      “Aquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente”.
     
 o que são os mitos e para que servem

O Enigma da Esfinge: Quem és tu? De onde vieste e que fazes aqui? Para onde vais? (viktor de salis)
A origem dos mitos perde-se na noite dos tempos, sem que ninguém possa dizer de onde vieram. São narrativas fascinantes, porém absurdas para quem quiser neles enxergar algo palpável e "real". E não adianta neles procurar verdades científicas ou mesmo; quem tentar faze-lo perderá toda a sua beleza e fascínio, além de desperdiçar seu tempo.
Mas se são absurdas fantasias, para que servem então? Para levar-nos para longe da realidade e embalar-nos em sonhos impossíveis? E ainda assim ficamos por eles apaixonados e maravilhados. Falam de coisas que nos dizem respeito e parecem responder a tantas e tantas perguntas que temos sobre o mistério e o absurdo de existir. Que estranho! Parece que quando conhecemos um mito, "já sabíamos sem saber", soa-nos tão familiar e, principalmente, toca o coração - se nosso realismo permitir e não exigir que o descartemos como bobagem ou simples mentira (afinal, mito é seu sinônimo).
Na Antigüidade, longe de indicar algo falso, os mitos eram considerados a linguagem que os deuses utilizavam para ensinar a nós, pobres mortais, a arte de viver, amar e deles se aproximar. Eram narrativas fantásticas e ambíguas porque os deuses nunca se comunicam de forma direta conosco; não é muito diferente do que ocorre quando consultamos um astrólogo ou um vidente. As respostas que buscamos nunca são transparentes e diretas - elas exigem nossa intervenção e interpretação para ganharem sentido e direção. É como se adentrássemos num mundo mágico (esta palavra deriva de mito…), onde se abrem novas possibilidades e esperanças para um futuro sempre incerto, mas tão sonhado e desejado.
Os mitos não podem - e nunca quiseram - competir com a ciência e a razão. Eles nos abrem as portas para uma outra realidade: o mistério de viver, com seus dramas individuais e coletivos, suas angústias, medos, alegrias e anseios. Eis onde a ciência e a razão sempre fracassaram redondamente! Alguém se atreve a explicar sua própria existência de modo científico, racional e previsível? Se conseguir é porque já morreu e ainda não foi notificado da data de seu enterro…
Eis a beleza dos mitos que tanto nos fascina e apaixona: eles não prevêem, abrem portas e possibilidades para a nossa vida. Por isso são fantásticos e ambíguos; exigem nossa participação e tomada de posição, enfim, cobram-nos a coragem de viver e não simplesmente vegetar. Assim, cada um tem o desafio de recriar um mito - qualquer mito - para a sua própria vida de acordo com sua visão e compreensão. Ontem como hoje, eles fazem o papel dos oráculos e videntes de nosso íntimo. 
"A CIÊNCIA DE HOJE É A SANTA INQUISIÇÃO DE ONTEM" entrevista com Viktor D. Salis

 
Há quanto tempo estuda a mitologia grega e por que escolheu esse campo de estudo?
A escolha desse campo se deve ao fato de ele fornecer chaves ao homem para a arte de viver e amar, e principalmente encontrar o caminho para o autoconhecimento, que as ciências modernas não foram capazes de responder.

Por que, em sua opinião, os ensinamentos dos mitos da antiga civilização grega ainda permanecem válidos?
Porque continuam a responder questões essenciais do ser, a saber: quem sou, de onde vim, para onde vou, o que faço aqui. Os mitos são narrativas fascinantes que falam de coisas que nos dizem respeito e parecem responder a tantas e tantas perguntas sobre o absurdo de existir. Parece que quando conhecemos um mito, "já sabíamos sem saber"; ele soa-nos tão familiar e, principalmente, toca o nosso coração. Eles nos abrem as portas para uma outra realidade: o mistério de viver, com seus dramas individuais e coletivos, suas angústias, medos, alegrias e anseios.

De que forma os mitos podem auxilar o homem moderno em seu cotidiano?
Abrindo novas portas e possibilidades para a nossa vida e ensinando algo mais sobre a relação do homem com o Universo que a ciência e a razão não conseguem explicar. Tanto ontem como hoje, os mitos fazem o papel dos oráculos e videntes de nosso íntimo e são essenciais para o autoconhecimento, sem o qual é impossível enfrentar os problemas do cotidiano. Os mitos nos permitem exercer com dignidade o nosso desejo natural cósmico de ter direito à vida.

O que é a Paidéia?
É o tipo de formação educacional utilizado na Grécia Antiga que não se preocupava somente em alfabetizar ou simplesmente transferir conhecimento, mas em formar homens como obras de arte do sentir e da dignidade. Na Paidéia, onde se dava a primeira formação do jovem, aprendia-se a conquistar a própria verdade e ter a coragem de expressá-la, tornando-se semelhante a heróis ou aos próprios deuses. No plano social, o objetivo da Paidéia era desenvolver os talentos e potenciais do educando a serviço da criação na natureza e junto aos seus semelhantes, aprendendo a ser, a conviver e a respeitar o mundo ao redor. Segundo o princípio da Paidéia, formar é domar os iinstintos cegos e selvagens do homem e transformá-lo em uma obra de arte estética e ética.

Como se pode adaptar o mito da Esfinge à nossa realidade?
"Quem sou eu e que faço aqui? De onde venho? Para onde vou?" eram as perguntas que todos faziam para a Esfinge, e ela, com sua função de oráculo, exigia que os homens buscassem essas repostas para não serem devorados pela angústia do desconhecimento de si. Até hoje, cada um de nós busca essas mesmas respostas para não sermos devorados pelo medo de não sabermos o que viemos fazer aqui. Achamos que não nascemos à toa, que tanto nosso passado como nosso futuro envolvem um significado que nos cabe descobrir e entender. Eis a chave do enigma da Esfinge para a modernidade: conhece-te a ti mesmo, depois aos outros, e finalmente ao mundo - e então te tornarás um homem capaz de voar para o alto.

O autoconhecimento é talvez o maior desafio enfrentado pelo homem. De que forma os mitos podem contribuir nesta busca? O que devemos fazer para que nossa vida não se torne um eterno vazio, como a dos condenados ao inferno de Hades?
Quando nada sabemos de nós e as incertezas nos angustiam, sentimos, como no mito da Esfinge, o monstro nos sufocar e ameaçar asfixiar-nos.
Ao contrário, quando conseguimos decifrar ou entender algo sobre nosso passado, presente ou futuro, sentimos um enorme alívio: o aperto no peito e na garganta parecem sumir e tudo passa a fazer sentido. Os mitos podem auxiliar nesta busca por nos oferecer um outro tipo de saber, ligado à intuição e à emoção, já que a razão e a llógica são inúteis para investigar o mistério da existência.
Por isso, pode-se dizer que não estamos condenados se buscarmos o autoconhecimento, mas é preciso coragem para indagar (o corpo de lleão da Esfinge representa essa coragem). Somente os covardes é que buscam a segurança aqui neste planeta.

A seu ver, por que motivo as tradições judaico-cristã-islâmicas passaram a desprezar a importância divina do arquétipo feminino?
Todos os estados guerreiros, como os nossos, não suportam a presença do feminino porque ele exige explicações sobre a necessidade de matar seus filhos para conquistar bandeiras que nunca lhes pertencerão e de nada servirão para a continuação de sua estirpe.

De que valores dos deuses e heróis gregos podemos nos apropriar para viver melhor em nossos dias?
Nascer, viver e morrer com dignidade e honra – eis o único mandamento necessário para se viver neste planeta.
Os dez mandamentos não passam de exageros moralistas.

Em seu livro Mitologia viva você afirma que a ciência e a razão não dão conta de responder às nossas indagações a respeito do mistério de viver. A que você atribui esta deficiência? Qual ciência ou razão poderia responder ao mistério de eu ter nascido no dia que os deuses determinaram, ter os pais que não escolhi, espécie e sexo também, e mais - haverá mais? - morrer no dia que não escolhi? A ciência de hoje é a Santa Inquisição de ontem; pretende com seu materialismo explicar a falta de sentido do homem de hoje.
De que forma o amor pode nos auxiliar no caminho da criação?Somente com a coragem para olhar para dentro de si mesmo, na esperança de sair de sua caverna; faça com paixão, não importa o que, desde que não prejudique o direito alheio à vida. Simples, não? Mas é preciso a coragem de correr riscos; nunca é seguro cumprir o seu destino.

Comente a função sagrada do erotismo como energia vital na antiga religião grega.Princípio motor cósmico - precisa dizer mais? Aquilo que Einstein chamou de "princípio universal da gravitação" para explicar a estabilidade dos sistemas cósmicos, fica muito mais doce e real como Eros. A física é chata e árida e a Mitologia é de um colorido deslumbrante, sendo ambas uma metafísica - sempre inexplicável - do mistério de existir. Prefiro a Mitologia, pelo simples fato que ela me concede o direito de co-participar da harmonia cósmica; já a Física, torna-nos partículas insignificantes de seu materialismo devorador.



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