O NOVO PADRÃO DE VIVER A VIDA

Ousar viver na materialidade com os valores da espiritualidade

quinta-feira, 2 de abril de 2009

ILUMINAÇÃO ENLATADA
Você acredita em contos de fadas? Sim, porque a iluminação, da forma como você a enxerga ou imagina, não passa de um conto de fadas. Você criou seus próprios modelos e pretende, um dia, quem sabe, fixar este modelo em sua personalidade. Então, poderá dizer a si mesmo: “Atingi o supremo. Tornei-me iluminado.”
Você, talvez, seja um devoto de Ramakrishna. Então, você olha para a vida de um homem com esse e estabelece os padrões a serem seguidos. Você, supostamente, diante de uma imagem de Kali, entrará em êxtase e começará a chorar feito criança e entoar canções à Deusa. Se você é um discípulo de Ramana Maharshi, o silêncio, encoberto apenas por uma tanga, é o modelo a ser imitado. Quanto ao grande número de seguidores que Osho atraiu, o modelo é: celebre, a vida é uma festa, um orgasmo e, se você quiser, um orgasmo múltiplo. Deixe sua barba crescer e use robes exóticos. Se Gurdjieff o inspirou é preciso praticar os exercícios e as danças que ele criou. É preciso ler, pelo menos três vezes os “Relatos de Belzebu.” Por fim, se Jesus é o seu mestre é preciso imita-lo nos mínimos detalhes. É preciso conhecer a “Imitação de Cristo”, oferecer tudo o que tem aos pobres e jamais atirar a primeira pedra.
Nada disso, o conduzirá ao eterno. A simples imitação de gestos e palavras oriundas de homens tão fascinantes não o conduzirá a Deus. O motivo é muito simples: você já está diante de Deus ou, se preferir, você é um Deus encarnado, esquecido da sua origem.
A iluminação é simplesmente um outro nome para aquilo que somos e se você ainda não realizou ou constatou a obviedade dessa afirmação, isso se deve ao fato de que você projetou sobre ela um conjunto de percepções inteiramente equivocadas. A primeira e mais poderosa dessas percepções, aquela profundamente enraizada na árvore genealógica de sua própria ilusão, é o fato de que você acredita que ainda não é iluminada, ainda não percebeu a presença do que, vulgarmente, é chamado de “eu superior”.
Recentemente, dado o caráter bastante intelectualizado desta nova geração de mestres e discípulos, a última moda a respeito da iluminação é aquela baseada nos assim-chamados ensinamentos não-duais, do Vedanta Advaíta, Dzogchen e o próprio Zen.
É curioso notar: a imitação dos modelos associados à descoberta da verdade, sofreu uma mutação. A última moda chama-se “satsang” ou “comunhão com a verdade”. Gente do mundo inteiro apregoa o novo evangelho, a mais recente fórmula para a descoberta do óbvio: “Este é o chamado para o seu despertar. Aquieta-te e saiba. Não há nada a alcançar. Não há nada a compreender. Repouse nisso e tudo virá até você!”
“Mestres” (observe bem as aspas) do mundo inteiro lançam-se no mercado de negócios espirituais a cada ano, assegurando que você não só pode como, também, DEVE acordar agora. Com isso, apenas isso, seu pretenso ensinamento não-dual desaba diante da perspectiva de que ainda existe alguém que necessita despertar. O ensinamento ou a constatação de que tudo é a própria iluminação se transforma em um produto que alguém poderá comprar. A nova moda é vender encontros que proporcionem ao buscador o fim da busca.
Assim, diante da falta de modelos a imitar se torna, “quase sem querer”, no próprio modelo, recém-elaborado na fábrica da divina brincadeira. Tais mercadores do espírito precisam sobreviver, assim como eu ou você. Até mesmo Buda, Jesus ou Mahavira precisam comer. Eles não precisavam, porém, afirmarem-se como mestres. Sua própria presença indicava isso.
Não é possível transmitir a iluminação! Mesmo olhando nos olhos de Jesus ou Krishnamurti você poderá recuar ou, até mais do que isso, nada compreender. Tal fato indica a necessidade, inevitável, de que você ache o seu próprio caminho. O abismo à sua frente é o SEU abismo e se existem pontos em comum aqui e ali a respeito da maneira como um determinado mestre atua, isso não passa de uma mera coincidência.
Meera e Chaytania Mahaprabhu dançavam para o Amado (Krishna). Rumi girava e rodopiava por horas a fio, criando um enorme campo de energia à sua volta. Buda amava sentar. Al Ghazzali e Ibn Arabi escreveram milhares de páginas, inúmeros textos. Meher Baba permaneceu por mais de trinta anos em absoluto silêncio. Mansur gritava diante da multidão: “Eu sou a Verdade!” Sócrates utilizava o diálogo como forma de expressão. Cada um, à sua maneira, encontrou sua própria maneira de celebrar a vida. Todos eram inspirados pela vida.
Não há a necessidade de modelos. VOCÊ é o modelo que a existência elegeu e seu único papel e representar o seu mito, ser você mesmo, sem ressalvas. Não há a necessidade de imitar ninguém. Respeite a si mesmo e pronto. No Zen, os patriarcas dizem: “Ao encontrares o Buda em tua frente, mate-o.” Eles o incitam a viver sua vida sem qualquer referência, sem qualquer imagem construída ou imaginada.
A sua iluminação está fadada a ser a SUA iluminação. A forma como a verdade se expressa em sua vida é a SUA forma de expressão. Somente você possui as qualidades que emana. Somente sobre você o sol se posiciona e cria uma nova sombra. Talvez você se torne um lenhador. Talvez você se torne um mendigo ou um homem de negócios. Talvez você se torne um mestre espiritual. Por que não? Esta, também, é uma possibilidade. Talvez a sua expressão se torne mais leve ou mais grave. Quem sabe?
Não há nenhuma qualidade especial a ser adquirida. Não há a necessidade de manifestar nenhum poder em especial. Você é especial. Você é único. Saboreie esta dádiva. O enigma do iluminado é que ele raramente se parece com aquilo que você chama ou reconhece como um “iluminado'.
RASUL

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